
Por Bruno Vaiano
No outono de 1967, a astrônoma irlandesa Jocelyn Bell detectou um sinal de rádio produzido por tecnologia alienígena. Ou pelo menos essa parecia a única explicação plausível para uma sequência de picos nos gráficos do observatório MRAO, em Cambridge: um pulso de radiação eletromagnética oriundo do espaço que se repetia a cada 1,3 segundo. Bell e seu orientador na pós-graduação, Antony Hewish, batizaram a detecção de Little Green Man 1 (“Homenzinho Verde 1”).
Calhou que não era um extraterrestre. Bell havia descoberto uma estrela de nêutrons. Trata-se de um astro com uma ou até duas vezes a massa do Sol comprimida numa bola com 10 km de raio, menor que a cidade de São Paulo. O resultado é uma densidade altíssima: uma caneca desse material pesa o mesmo que o Everest.
Uma estrela de nêutrons gira em torno do próprio eixo como um peão instável e completa uma rotação em segundos ou frações de segundo. Seu campo magnético de 1013 Gauss, cem bilhões de bilhões de bilhões de bilhões de vezes mais intenso que o da Terra, transforma os polos Sul e Norte em canhões que emitem jatos de radiação. Dependendo da posição da estrela em relação ao nosso planeta, esses jatos ficam apontados para cá em intervalos regulares. Quando isso acontece, bingo: pico no gráfico. Foi esse fenômeno que Bell detectou no MRAO.
15 anos depois, em 1982, a astrônoma brasileira Angela Olinto – hoje reitora da Divisão de Ciências Físicas da Universidade de Chicago – chegou ao MIT para fazer seu doutorado. Em parceria com Charles Alcock e Edward Farhi, ela publicou uma sequência de textos pioneira sobre a possibilidade de que as estrelas de nêutrons escondam, em seu interior, um material inédito para os físicos – mais denso e estável que qualquer núcleo atômico, e capaz de formar astros ainda mais extremos, batizados de estrelas estranhas. Conversamos com Angela para entender o que são elas.
Há estrelas mortas que compactam a massa do Sol numa bola com 10 km de raio. Em seu núcleo, pode se formar o material mais denso e estável já previsto pelos físicos, a matéria estranha. Ela talvez seja “contagiosa” – e transforme tudo que toca em mais de si mesma.
O estranho mundo das estrelas de nêutrons
Publicado originalmente em superinteressante
Ciência maravilhosa!
Verdade 🙂