Ciência…por Mario Quintana

“E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando a vida dos insetos…”

🍀Mario Quintana

imagens do WordPress

Estudo comprova: mulheres são menos creditadas na ciência do que homens

Ser cientista é uma tarefa mais difícil para as mulheres – e não só por causa da jornada dupla de trabalho (a ciência somada aos afazeres domésticos), do assédio e do preconceito que elas enfrentam. As cientistas têm de se esforçar significativamente mais para que suas contribuições sejam reconhecidas, e muitas vezes são deixadas de lado nos estudos em que participam.

desigualdade de gênero na ciência não é novidade, claro. Mas faltava colocar a diferença na ponta do lápis e entender sua razão de ser. “Sabemos há muito tempo que as mulheres publicam [artigos científicos] e patenteiam [invenções] a uma taxa menor do que os homens”, afirma Julia Lane, da Universidade de Nova York, coautora de um estudo sobre quem recebe crédito por projetos científicos e quem não recebe. 

Lane e seus colegas usaram um banco de dados chamado UMETRICS, organizado pelo Censo americano e pelo Instituto de Pesquisa em Inovação e Ciência da Universidade de Michigan (EUA).

Há uma diferença de 59% entre a nomeação de mulheres e homens em patentes relacionadas a projetos em que ambos trabalharam.

Estudo comprova: mulheres são menos creditadas na ciência do que homens

publicado em superinteressante

Em visita ao Brasil, Marie Curie inspirou o início da radioterapia no país

Por Maria Clara Rossini

Chapéu, roupa de banho, escova de dente, duas agulhas de rádio (o elemento químico). Era mais ou menos assim que a mala de Marie Curie estava organizada quando ela saiu de Paris, em junho de 1926. O destino: Rio de Janeiro. O convite partiu da Embaixada do Brasil na França, mas foi o governo francês que bancou a viagem.

Já aos 59 anos de idade e laureada com dois prêmios Nobel (de Física, em 1903, e Química, em 1911), Curie não parecia muito animada com a viagem. Em quase todas as fotos no Brasil ela aparece sentada e sem interesse em olhar para a câmera. A polonesa naturalizada francesa só tinha um objetivo claro: divulgar suas pesquisas sobre radioatividade.

Agenda lotada

Curie ministrou um curso na Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que foi transmitido via rádio (o aparelho, ainda uma novidade tecnológica). Apesar do foco no trabalho, arrumou tempo para aproveitar o hotel no bairro do Flamengo com sua filha, Irène Joliot-Curie, tomar banhos de mar e fazer o clássico roteiro turistão carioca: Corcovado, Pão de Açúcar (já havia o bondinho), Tijuca e Museu Nacional.

Durante os dois meses que ficou no Brasil, estava quase sempre acompanhada da bióloga paulistana Bertha Lutz, uma ativista do feminismo. Esta fazia parte da Federação Brasileira pelo Progresso Femininouma entidade que lutava pelos direitos políticos e inclusão das mulheres na educação e ciência. As ativistas feministas tinham tudo para se tornarem BFFs.

Lutz também acompanhou Curie em São Paulo, onde a química deu palestras na Faculdade de Medicina da USP. Ela também visitou o Instituto Butantã, que 95 anos depois desenvolveria a primeira vacina contra a Covid-19 aprovada no Brasil.

Depois de passar um dia na capital paulista, ela embarcou em um trem na Estação da Luz com destino a Águas de Lindoia. Não para relaxar nas termas, mas para conferir um rumor que circulava entre os cientistas: as águas das fontes lindoienses teriam um pequeno grau de radioatividade. Segundo os jornais da época, ao final da visita, Curie teria confirmado o fato. E estava certa. Medições com equipamentos mais modernos mostrariam depois que que tem mesmo; num grau seguro para a saúde. 

A cientista visitou o primeiro hospital oncológico quando passou por aqui, em 1926. Saiba como foi a experiência da química no Brasil.

Em visita ao Brasil, Marie Curie inspirou o início da radioterapia no país

publicado em superinteressante

Cientistas mudam tipo sanguíneo de pulmão para simulação de transplante

Em um projeto pioneiro realizado na University Health Network (Canadá), cientistas transformaram pulmões de doadores com tipo sanguíneo A em órgãos de tipo sanguíneo O. Os resultados foram publicados na revista Science Translational Medicine e são considerados um passo importante na criação de órgãos “universais” para transplantes.

Para que um transplante seja bem-sucedido (ou seja, o sistema imune do receptor não rejeite o órgão), é preciso que exista um match genético entre doador e receptor. À procura dessa compatibilidade, os cirurgiões observam o tipo sanguíneo de ambas as partes. 

A classificação mais importante para isso é o sistema ABO, que divide os tipos sanguíneos entre A, B, AB  e O. A diferença entre eles é a presença de proteínas específicas (antígenos A ou B) na superfície dos glóbulos vermelhos e de anticorpos anti-A ou anti-B no plasma sanguíneo.

Quem tem sangue tipo A, por exemplo, carrega o antígeno A e possui anticorpos contra o antígeno B (anti-B). Com quem tem sangue tipo B, é o contrário (a pessoa possui antígenos tipo B e anticorpos anti-A). Já quem tem sangue tipo O não apresenta antígenos A nem B, mas possui anticorpos contra os dois.

Pessoas do tipo sanguíneo O só podem receber sangue O. Em compensação, elas podem doar sangue para todo mundo sem problemas de compatibilidade – seu tipo sanguíneo é o chamado “doador universal”. Isso também vale, claro, para os transplantes. Por isso, alguns cientistas tentam criar órgãos “universais” tipo O.

“Ter órgãos universais significa que podemos eliminar a barreira de correspondência de sangue e priorizar pacientes por urgência médica, salvando mais vidas e desperdiçando menos órgãos”, afirma Marcelo Cypel, autor do novo estudo, em comunicado.

[abril-whatsapp][/abril-whatsapp]

Em 2018, pesquisadores da Universidade da Columbia Britânica (Canadá) encontraram um par de enzimas intestinais que poderiam remover antígenos A e B dos glóbulos vermelhos, transformando qualquer tipo sanguíneo no tipo O – um passo importante para as tentativas de criação de “órgãos universais”.

Segundo Stephen Withers, responsável pela descoberta, os cientistas estudam o uso de enzimas para modificar o sangue desde 1982. Ele mesmo já tinha desenvolvido enzimas capazes de fazer isso. “No entanto, essas novas enzimas [descobertas em 2018] podem fazer o trabalho 30 vezes melhor.”

Os pesquisadores do novo estudo resolveram testar essas enzimas em pulmões de tipo sanguíneo A – e que não eram considerados adequados para transplantes – em um sistema chamado EVLP (ex vivo lung perfusion).

As enzimas intestinais foram entregues aos pulmões a partir do sistema EVLP em laboratório.

Esse sistema bombeia nutrientes através dos órgãos e permite que sejam aquecidos à temperatura corporal antes de transplantes. No teste, a máquina foi usada para tratar os pulmões com as enzimas modificadoras de tipo sanguíneo.

Pulmões de tipo sanguíneo A foram convertidos em órgãos de tipo sanguíneo O – um passo importante na criação de órgãos “universais” para transplantes.

Cientistas mudam tipo sanguíneo de pulmão para simulação de transplante

publicado originalmente em superinteressante

Cientistas constroem peixe artificial a partir de células cardíacas humanas.

Cientistas das universidades americanas de Harvard e Emory construíram o primeiro “peixe” artificial que usa as contrações de células cardíacas para nadar por conta própria – projeto que representa um avanço nas pesquisas de tratamentos cardíacos.

O peixinho “biohíbrido” foi construído a partir de papel, gelatina, uma barbatana de plástico e duas tiras de tecido muscular cardíaco – derivado de células-tronco humanas. Uma camada de tecido fica no lado esquerdo da cauda do peixe, a outra no lado direito, e as contrações musculares impulsionam o peixe na água.

Os pesquisadores se inspiraram no movimento de natação dos peixes-zebra para criar o dispositivo, em que cada contração muscular resulta em um alongamento do lado oposto da cauda.

Eles também projetaram uma espécie de marca-passo, que controla o ritmo e a frequência das contrações espontâneas. Com esse sistema, o peixe se moveu de forma autônoma por mais de cem dias – o que equivale a 38 milhões de batimentos.

Os resultados do experimento foram publicados na revista Science. Confira a natação do peixe biohíbrido no vídeo abaixo.

As contrações musculares impulsionaram o dispositivo na água por mais de cem dias. Objetivo final dos pesquisadores é construir um coração artificial humano. Assista ao vídeo

Cientistas constroem peixe artificial a partir de células cardíacas humanas.

publicado originalmente em superinteressante

Vacinação mudou perfil de hospitalizados e mortos por Covid, indica estudo

Por Fabiana Schiavon

vacinação mudou o perfil dos hospitalizados por Covid-19 no Brasil e também das pessoas que morrem em decorrência da doença. Um estudo conduzido em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, registrou o início desse processo.

A equipe do Laboratório de Pesquisas em Virologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) analisou retrospectivamente dados de 2 777 pacientes atendidos entre 5 de janeiro e 12 de setembro de 2021 no Hospital de Base, que é referência para toda a região.

Nessa época, a variante gama (P.1) do Sars-CoV-2 predominava no estado, e os idosos eram maioria no grupo de brasileiros com o esquema vacinal completo (duas doses, até então).

Todos os internados com Covid-19 no período foram divididos entre vacinados e não vacinados. E os pesquisadores compararam as características dos integrantes de cada grupo – desde idade, sexo e presença de comorbidades até os sintomas que apresentaram, as condutas clínicas adotadas durante a internação e os desfechos (recuperação ou óbito).

Os dados completos foram divulgados este mês no Journal of Infection.

+ Leia também: Tire 7 dúvidas sobre isolamento e testagem por Covid-19

“Nosso objetivo era descobrir qual é o melhor preditor de mortalidade entre os vacinados”, conta Maurício Lacerda Nogueira, professor da Famerp e autor correspondente do estudo, que contou com apoio da Fapesp por meio de três projetos.

Entre os 2 518 participantes não imunizados a idade média era de 51 anos e 71,5% apresentavam uma ou mais comorbidades, sendo as mais comuns cardiopatia, diabetes e obesidade.

Já entre os 259 hospitalizados que haviam recebido duas doses de vacina, a idade média era de 73 anos e 95% tinham doenças de base.

Na análise estatística, os fatores que se correlacionaram com risco aumentado de hospitalização e morte entre os não vacinados foram idade superior a 60 anos e a presença de uma ou mais das seguintes condições: cardiopatia, distúrbios no fígado ou neurológicos, diabetes, comprometimento imunológico e doença renal.

Já entre os imunizados, somente idade acima de 60 anos e insuficiência renal se configuraram como preditores de mortalidade.

“Essa é uma evidência clara de que a vacina protege muito bem e salva vidas”, afirma Nogueira.

+ Leia também: Cientistas avaliam mutações da Ômicron e refletem sobre efeito das vacinas

Na avaliação de Cássia Fernanda Estofolete, primeira autora do estudo e integrante do Laboratório de Pesquisas em Virologia da Famerp, o avanço da vacinação mudou “drasticamente” o perfil do paciente internado por Covid-19 e também a história natural da doença, ou seja, a forma como ela evolui.

“Hoje, com a volta das cirurgias eletivas, o avanço da vacinação e a emergência da Ômicron, temos visto um panorama diferente nos hospitais. Muitos pacientes são internados para fazer uma cirurgia agendada ou por trauma e acabam descobrindo que estão com Covid-19, ou seja, não é o vírus que leva a pessoa ao hospital. E também há muitos idosos com comorbidades que acabam sendo internados porque a Covid-19 exacerba a doença de base – descompensa o diabetes ou a insuficiência renal, por exemplo. A maioria já não é internada por SRAG [síndrome respiratória aguda grave], como era na época em que o estudo foi feito”, conta.

Levantamento com mais de 2 500 pessoas deixa claro como as vacinas protegem muito bem e salvam vidas

Vacinação mudou perfil de hospitalizados e mortos por Covid, indica estudo

publicado em Veja saúde

O estranho mundo das estrelas de nêutrons

Por Bruno Vaiano

No outono de 1967, a astrônoma irlandesa Jocelyn Bell detectou um sinal de rádio produzido por tecnologia alienígena. Ou pelo menos essa parecia a única explicação plausível para uma sequência de picos nos gráficos do observatório MRAO, em Cambridge: um pulso de radiação eletromagnética oriundo do espaço que se repetia a cada 1,3 segundo. Bell e seu orientador na pós-graduação, Antony Hewish, batizaram a detecção de Little Green Man 1 (“Homenzinho Verde 1”).

Calhou que não era um extraterrestre. Bell havia descoberto uma estrela de nêutrons. Trata-se de um astro com uma ou até duas vezes a massa do Sol comprimida numa bola com 10 km de raio, menor que a cidade de São Paulo. O resultado é uma densidade altíssima: uma caneca desse material pesa o mesmo que o Everest.

Uma estrela de nêutrons gira em torno do próprio eixo como um peão instável e completa uma rotação em segundos ou frações de segundo. Seu campo magnético de 1013 Gauss, cem bilhões de bilhões de bilhões de bilhões de vezes mais intenso que o da Terra, transforma os polos Sul e Norte em canhões que emitem jatos de radiação. Dependendo da posição da estrela em relação ao nosso planeta, esses jatos ficam apontados para cá em intervalos regulares. Quando isso acontece, bingo: pico no gráfico. Foi esse fenômeno que Bell detectou no MRAO.

15 anos depois, em 1982, a astrônoma brasileira Angela Olinto – hoje reitora da Divisão de Ciências Físicas da Universidade de Chicago – chegou ao MIT para fazer seu doutorado. Em parceria com Charles Alcock e Edward Farhi, ela publicou uma sequência de textos pioneira sobre a possibilidade de que as estrelas de nêutrons escondam, em seu interior, um material inédito para os físicos – mais denso e estável que qualquer núcleo atômico, e capaz de formar astros ainda mais extremos, batizados de estrelas estranhas. Conversamos com Angela para entender o que são elas.

Há estrelas mortas que compactam a massa do Sol numa bola com 10 km de raio. Em seu núcleo, pode se formar o material mais denso e estável já previsto pelos físicos, a matéria estranha. Ela talvez seja “contagiosa” – e transforme tudo que toca em mais de si mesma.

O estranho mundo das estrelas de nêutrons

Publicado originalmente em superinteressante

Berçário com 60 milhões de ninhos de peixes é descoberto na Antártida

Imagine ter um sangue tão transparente quanto vodca. Os peixes da família Channichthyidae – conhecidos em inglês como icefish ou “peixes do gelo” – não carregam uma única molécula de hemoglobina no sangue. Em humanos, essa proteína presente nas hemácias é responsável por transportar oxigênio e dar a cor avermelhada ao sangue. 

Os “peixes de gelo” não precisam de hemoglobina ou hemácias, já que toda sua pele funciona como um grande pulmão, absorvendo oxigênio diretamente da água ao redor. Isso permite que eles suportem temperaturas em torno de 1 ºC – apenas o suficiente para a água não congelar. Nessas temperaturas, os glóbulos vermelhos se tornam mais difíceis de bombear, e poderiam congelar facilmente.

hack adaptativo deu certo. Esses peixes vivem relativamente escondidos dos humanos no mar da Antártida. Pesquisadores do Instituto Alfred Wegener, na Alemanha, descobriram um berçário de icefish no fundo do Mar de Wenddell, próximo à península antártica. Estima-se que a área esteja coberta com mais de 60 milhões de ninhos – caracterizando-o como o maior berçário de peixes já descoberto. A pesquisa foi publicada no periódico Current Biology.

A colônia de peixes foi encontrada pela primeira vez em fevereiro de 2021. A embarcação RV Polarstern filmou o fundo do Mar Wenddell enquanto enviava as imagens à equipe de pesquisadores. A embarcação encontrou mais de 16 mil ninhos durante quatro horas de navegação. Após mais duas pesquisas de campo, os cientistas estimaram uma área de 240 quilômetros quadrados coberta por ninhos – separados por apenas 25 centímetros entre si.

Cada ninho tem 1,7 mil ovos e é protegido por um peixe adulto. Até então, pesquisadores só haviam encontrado berçários com, no máximo, 40 ninhos dessa espécie. Os cientistas acreditam que a abundância de ninhos tenha a ver com a temperatura da água no local, que é 2 ºC mais alta do que os arredores. Essa porção de água também tem muitos plânctons, que servem de comida aos filhotes quando os ovos racham.

Localizado no Mar de Wenddell, esse pode ser o maior berçário de peixes já descoberto. Entenda como esses animais sobrevivem às temperaturas congelantes.

Berçário com 60 milhões de ninhos de peixes é descoberto na Antártida

publicado originalmente em superinteressante

%d blogueiros gostam disto: