O bruxismo está à solta

A tensão dos últimos tempos não poupou ninguém. Nem a boca. Um dos reflexos de toda a reviravolta que enfrentamos por causa da Covid-19 foi o aumento nos casos de bruxismo, uma condição que faz a pessoa pressionar e desgastar inconscientemente os dentes, inclusive ao dormir.

A constatação vem de estudos mundo afora. Um deles reuniu pesquisadores poloneses e israelenses e analisou quase 1 800 cidadãos desses dois países. Os cientistas apuraram e cruzaram os efeitos da ansiedade e da preocupação despertadas pela pandemia com os índices de bruxismo e disfunção temporomandibular (DTM), quadro que provoca alterações e dores na articulação que liga a mandíbula ao crânio. O resultado foi claro: ambos foram intensificados.

Especialistas brasileiros chegaram a conclusões semelhantes examinando os próprios… dentistas. Num trabalho envolvendo a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de São Paulo (USP) em Bauru, observaram, entre 641 profissionais de odontologia, que ficar confinado teve mais repercussões negativas no estado dos entrevistados do que trabalhar ativamente. De modo geral, a situação levou a uma piora na qualidade do sono e a sintomas de bruxismo em mais da metade do grupo.

Na mesma linha, um levantamento englobando 50 alunos de pós-graduação em odontologia e psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) revela, em seus achados preliminares, que os casos de bruxismo durante o sono mais que triplicaram (pulando de uma incidência de 8 para 28% no período pandêmico) e os do chamado bruxismo de vigília, aquele que ocorre com a pessoa acordada, dobraram (mudança de 6 para 12%).

Os profissionais têm sentido o impacto detectado pelos estudos no seu dia a dia de consultório. “Não há dúvida de que este momento tão complicado que estamos encarando tem ligação com esse tipo de problema. Inclusive, uma análise feita pela Associação Americana de Odontologia indica que queixas de bruxismo tiveram um aumento de mais de 50% por lá, e aqui não é diferente”, diz a dentista Juliana Stuginski Barbosa, pesquisadora da USP de Bauru e membro da Sociedade Brasileira de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial.

Apertar e ranger os dentes tem tudo a ver com estresse. E a incidência do problema deu um salto! Saiba o que ele pode aprontar e como escapar dos seus danos

O bruxismo está à solta

publicado originalmente em Veja saúde

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