E se a Revolução Russa não tivesse acontecido?

Por Rafael Battaglia

Em novembro de 1917, aconteceu algo que nem Karl Marx imaginaria: o país mais extenso do mundo (e o terceiro maior em população) passaria a ser administrado por seguidores radicais seus.

Literalmente não imaginaria: a previsão de Marx era a de que as revoluções socialistas começariam justamente nos lugares onde o capitalismo era mais avançado – e que seria liderada por operários, não por intelectuais de um partido político, caso de Lenin e Trotski liderando o Partido Social Democrático Trabalhista Russo (Bolchevique).

Sem a Revolução Russa, nada seria igual, pois não teria havido a Guerra Fria. Sem ela, não haveria internet, porque ela é fruto de um esforço dos militares americanos de criar uma rede capaz de resistir a uma guerra nuclear: a Arpanet. E a exploração espacial talvez estivesse engatinhando ainda, já que ela começou de carona em mísseis intercontinentais.

Também não haveria Chernobyl, a Grande Fome na Ucrânia em 1932, os 20 milhões de mortos no regime de Stalin. Por aqui, não teria Estado Novo ou ditadura militar, nascidos do medo de uma revolução comunista.

Enfim, a Revolução Russa é um evento tão definidor da história que é fácil estender indefinidamente a parte do “não haveria”. Mas o que haveria?

Revolução haveria. Porque o que os revolucionários bolcheviques liderados por Lenin fizeram foi uma revolução dentro de uma revolução.

Em fevereiro de 1917, uma revolta maciça de civis e militares, insatisfeitos com as derrotas da Rússia na Primeira Guerra e a penúria causada por ela, na forma de racionamento de pão, tomou as ruas da capital Petrogrado (hoje São Petersburgo). O czar se viu forçado a abdicar, e os revolucionários declararam a Rússia uma república.

O governo foi formado por uma aliança entre socialistas moderados (Lenin se recusou a participar, pois de moderado não tinha nada). Assumiu como líder provisório o advogado Alexander Kerensky, do Partido Revolucionário Socialista – apesar do nome, uma agremiação não-marxista, que pretendia criar uma democracia liberal.

Kerensky, porém, não atendeu à maior demanda de todas, que era acabar com a guerra. Mais derrotas e mais penúrias se acumularam. Seu governo se revelaria impopular.

Em julho de 1917, uma revolta armada explodiu em Petrogrado. O partido de Lenin foi acusado de causar a violência – na prática, tinha sido uma explosão espontânea de revolta contra a participação desastrosa da Rússia na Guerra. Como resultado, vários líderes do partido foram presos, e Lenin escapou para a Finlândia.

Nesse ponto, os bolcheviques pareciam destinados a entrar para a história como revolucionários frustrados, como na Comuna de Paris de 1871. Até a estupidez de seus adversários mudar sua sorte.

Guerra Fria, Chernobyl, Estado Novo, internet. É fácil listar o que não haveria na ausência de um dos eventos definidores do século 20. Mas o que haveria?

E se a Revolução Russa não tivesse acontecido?

publicado originalmente em superinteressante

Please follow and like us:

Deixe uma resposta

Descubra mais sobre Mágica Mistura

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading