Bactérias estão aprendendo a comer plástico

A abundância de microplásticos nos oceanos e lixo plástico em terra parece ter induzido uma adaptação evolutiva em várias espécies de micróbio, que aprenderam a produzir enzimas capazes de decompor o plástico. Essa é a principal conclusão de um estudo realizado por cientistas suecos, que analisaram amostras de DNA coletadas em 38 países (1).

Os pesquisadores encontraram 30 mil enzimas, que são capazes de degradar 10 tipos diferentes de plástico. Segundo eles, há uma relação direta entre a poluição plástica em cada local avaliado e a quantidade de enzimas decompositoras encontradas nele.

Nos oceanos, as bactérias mais adaptadas a comer plástico são as das classes Alphaproteobacteria e Gammaproteobacteria. Atualmente, a humanidade produz mais de 300 milhões de toneladas de plástico por ano, dos quais apenas 7,7 milhões são reciclados.

Fonte 1. Plastic-Degrading Potential across the Global Microbiome Correlates with Recent Pollution Trends. J Zrimec e outros, 2021.

Poluição ambiental leva à evolução dos microorganismos – que já são capazes de digerir 10 tipos de plástico

Bactérias estão aprendendo a comer plástico

publicado originalmente em superinteressante

A tela holográfica do Google

O sistema se chama Project Starline e é experimental, sem previsão de lançamento. Recentemente o Google publicou um artigo científico (1) revelando como ele funciona. A máquina usa luz infravermelha e 14 câmeras para captar vários ângulos do rosto ao mesmo tempo. Essa informação é processada e usada para gerar um modelo 3D da face da pessoa – que depois é exibido para o outro usuário, que também está usando um Starline.

Ou seja, é um sistema de videoconferência extremamente sofisticado. A tela tem 65 polegadas, resolução 8K e uma tecnologia chamada light field display, que a torna capaz de exibir várias imagens ao mesmo tempo (é uma versão muito mais avançada da técnica usada na tela do console Nintendo 3DS). Conforme você se mexe na frente da tela, vê ângulos ligeiramente diferentes do rosto da outra pessoa – e é isso que dá a sensação de holograma.

O sistema usa dois computadores potentes, com quatro placas de vídeo cada um, e requer uma conexão à internet de 100 Mbps. O Google construiu algumas unidades do Starline, que já está sendo usado em três escritórios da empresa nos EUA.

***

Fonte 1. Project Starline: A high-fidelity telepresence system. J Lawrence e outros, 2021.

Starline usa luz infravermelha, 14 câmeras e uma tela especial – e permite conversar com outras pessoas como se elas estivessem na sua frente.

A tela holográfica do Google

publicado originalmente em superinteressante

Papo de gênios: Einstein e Freud trocaram cartas em busca da paz mundial

Agora em 2022, uma das trocas de ideias mais extraordinárias da história completa nove décadas. Foi em 1932 que, numa iniciativa da Comissão Permanente de Letras e Artes da Liga das Nações (órgão que viria a ser substituído pela ONU em 1945), Albert Einstein foi convidado a debater, por carta, com um interlocutor que ele escolhesse, sobre algum tema de interesse geral do planeta. 

O físico então quis tratar das razões psicológicas que levam os países a conflitos armados. E, se o assunto passava por motivações da mente humana, passava também, na época, por Sigmund Freud – que, com mais de 70 anos, já era considerado um gigante do pensamento moderno. A psicanálise havia conquistado o mundo desde que o homem dos charutos realizou, em 1909, uma série de palestras nos Estados Unidos, onde suas teorias do inconsciente e a psicoterapia que inventou viraram uma febre.

Juntar dois dos maiores gênios do século 20 para procurar caminhos que evitassem novas matanças entre países rivais fazia todo o sentido naquele período – pois o planeta estava em ebulição.

A Primeira Guerra havia terminado só 14 anos antes, deixando 10 milhões de mortos e uma Alemanha derrotada e humilhada, ansiosa por ouvir discursos populistas que prometessem romper com as restrições do Tratado de Versalhes: pelo acordo imposto, os alemães tiveram de ceder parte de seu território, ficou proibida de possuir Marinha e Força Aérea (com um Exército restrito, quase simbólico) e ainda foi obrigada a pagar uma fortuna de indenização por conta dos prejuízos causados pela guerra. Hitler não surgiu do nada, portanto. Naquele mesmo 1932, o Partido Nazista elegeria 230 deputados e se tornaria o segundo com maior representação no Parlamento.

Há 90 anos, o pai da relatividade convidou o pai da psicanálise a um debate contra a guerra. Mas o homem do divã achava esse tipo de conflito inevitável.

Papo de gênios: Einstein e Freud trocaram cartas em busca da paz mundial

publicado originalmente em superinteressante

O mito do racismo reverso

Um artigo na seção de Opinião da Folha de S. Paulo, do dia 15 de janeiro, reacendeu o debate acerca de um mito que já deveria estar na lata de lixo da história há muito tempo. O antropólogo Antonio Risério, autor de obras como As Sinhás Pretas da Bahia (que dá ênfase à trajetória de negras escravistas), assinou um texto no jornal com o título: “Racismo de negros contra brancos ganha força com identidarismo”. 

Ao longo do artigo, que aponta um suposto projeto supremacista em movimentos negros, Risério elenca uma série de atos pontuais de violência, seja de indivíduos ou grupos negros, contra brancos, judeus e asiáticos. Também recupera histórias de lideranças negras que flertaram com o autoritarismo em momentos diferentes do passado. E assim justifica sua ideia de que há um perigoso racismo por parte dos negros que está ganhando envergadura como “discurso de esquerda”. 

O artigo, como o próprio autor deveria prever ao escrevê-lo, gerou uma grande polêmica nas redes sociais, com ataques de intelectuais (negros e brancos), de ativistas e de qualquer um que não seja cego à realidade de para que lado os ventos do racismo estrutural sempre sopraram. Também houve, obviamente, quem defendesse a tese e o teórico.

Essa disparidade de posicionamentos se explica porque dar sua opinião sobre qualquer assunto está na essência das redes sociais, é de graça e ao alcance de qualquer um. Se a opinião faz algum sentido, já é outra história. 

Racismo é via de mão única

Há, sim, negros preconceituosos. Há também negros violentos, sem dúvida. A violência e a hostilidade direcionada contra quem é diferente de nós não é uma característica que vem com a cor da pele, claro. Faz parte do que o Homo sapiens tem de humano e imperfeito. O racismo, entretanto, é algo que vai muito além disso. Está ligado a uma tradição de poder e privilégio, que sempre beneficiou o homem branco. Nunca o negro.

Um oceano de estudos deixa muito às claras quem sofre e quem não sofre racismo. E aí não é questão de opinião. São fatos provados pela ciência.

Equiparar hostilidade contra brancos a uma tradição de terror contra os negros e privação de seus direitos é negacionismo da lógica.

O mito do racismo reverso

publicado originalmente em superinteressante

Transplante de porco para humano é um marco – mas está longe de virar solução médica

Na última segunda-feira (10), a Universidade de Maryland anunciou a realização do primeiro transplante de coração de um porco geneticamente modificado em um ser humano. A cirurgia é considerada um marco científico, mas procedimentos desse tipo carregam uma série de desafios e questões éticas.

Como aconteceu

Cirurgiões do Centro Médico da Universidade de Maryland passaram oito horas na noite de sexta-feira (7) realizando o transplante de um coração de porco para o americano David Bennett, de 57 anos, que decidiu tentar o tratamento experimental porque era sua última opção.

Ele estava no hospital há mais de um mês com insuficiência cardíaca terminal, havia esgotado outros tratamentos e estava muito doente para se eleger para um transplante de coração humano.

Após a cirurgia, Bennett ficou conectado a uma máquina de circulação extracorpórea, que substitui temporariamente a função de órgãos vitais de um paciente – como o coração, neste caso. Mas a equipe médica relatou ao jornal The New York Times que o coração transplantado estava funcionando e “parecia normal”.

A situação de Bennett é incerta, visto o caráter inédito do procedimento, mas ele está sendo acompanhado de perto pelos médicos, que estão de olho em possíveis infecções ou rejeição do órgão pelo corpo do paciente – uma grande preocupação quando o assunto são os xenotransplantes (nome dado aos transplantes realizados entre diferentes espécies). 

O primeiro transplante de coração de um porco geneticamente modificado para um ser humano, realizado nos EUA, é um avanço notável; mas procedimentos do tipo ainda terão de enfrentar uma série de desafios técnicos e questões éticas.

Transplante de porco para humano é um marco – mas está longe de virar solução médica

publicado originalmente em superinteressante

Com mudanças climáticas, tubarões se afastam de áreas de proteção no Atlântico

O ano de 2021 marcou um novo recorde: pelo sexto ano consecutivo, as temperaturas dos oceanos aumentaram. Esse fenômeno é um dos protagonistas quando se fala em mudanças climáticas e tem uma porção de consequências preocupantes. Uma das principais é o aumento do nível dos oceanos, que acontece a partir da expansão térmica: à medida que as águas absorvem calor, elas aumentam de volume.

O aquecimento também pode levar ao derretimento mais acelerado das geleiras e a mudanças nos padrões de ventos e chuvas ao redor do planeta (que podem intensificar furacões e tufões), além de dificultar a absorção de carbono da atmosfera pelos oceanos.

Mas não para por aí. As mudanças de temperatura podem alterar diretamente o comportamento de espécies marinhas e, assim, bagunçar ecossistemas ao redor do mundo. Um exemplo recém-descoberto é o caso dos tubarões-tigre (Galeocerdo cuvier) no Oceano Atlântico – próximo à costa nordeste dos Estados Unidos.

Uma equipe de pesquisadores combinou quase dez anos de dados de satélites com 40 anos de dados de rastreamento desses animais. Assim, descobriu que as mudanças de temperatura das águas provocam mudanças nos padrões migratórios da espécie. As descobertas foram publicadas na última quinta-feira (13), no periódico científico Global Change Biology.

Para realizar o estudo, os cientistas capturaram 47 tubarões entre a Flórida (nos Estados Unidos) e o norte de Bahamas, para equipá-los com dispositivos de rastreamento por satélite e monitorar as migrações dos animais – algo que rolou entre 2010 e 2019.

Pesquisadores combinaram dados de satélites com dados de rastreamento dos tubarões e descobriram que o aquecimento das águas provoca mudanças em padrões migratórios.

Com mudanças climáticas, tubarões se afastam de áreas de proteção no Atlântico

publicado originalmente em superinteressante

Berçário com 60 milhões de ninhos de peixes é descoberto na Antártida

Imagine ter um sangue tão transparente quanto vodca. Os peixes da família Channichthyidae – conhecidos em inglês como icefish ou “peixes do gelo” – não carregam uma única molécula de hemoglobina no sangue. Em humanos, essa proteína presente nas hemácias é responsável por transportar oxigênio e dar a cor avermelhada ao sangue. 

Os “peixes de gelo” não precisam de hemoglobina ou hemácias, já que toda sua pele funciona como um grande pulmão, absorvendo oxigênio diretamente da água ao redor. Isso permite que eles suportem temperaturas em torno de 1 ºC – apenas o suficiente para a água não congelar. Nessas temperaturas, os glóbulos vermelhos se tornam mais difíceis de bombear, e poderiam congelar facilmente.

hack adaptativo deu certo. Esses peixes vivem relativamente escondidos dos humanos no mar da Antártida. Pesquisadores do Instituto Alfred Wegener, na Alemanha, descobriram um berçário de icefish no fundo do Mar de Wenddell, próximo à península antártica. Estima-se que a área esteja coberta com mais de 60 milhões de ninhos – caracterizando-o como o maior berçário de peixes já descoberto. A pesquisa foi publicada no periódico Current Biology.

A colônia de peixes foi encontrada pela primeira vez em fevereiro de 2021. A embarcação RV Polarstern filmou o fundo do Mar Wenddell enquanto enviava as imagens à equipe de pesquisadores. A embarcação encontrou mais de 16 mil ninhos durante quatro horas de navegação. Após mais duas pesquisas de campo, os cientistas estimaram uma área de 240 quilômetros quadrados coberta por ninhos – separados por apenas 25 centímetros entre si.

Cada ninho tem 1,7 mil ovos e é protegido por um peixe adulto. Até então, pesquisadores só haviam encontrado berçários com, no máximo, 40 ninhos dessa espécie. Os cientistas acreditam que a abundância de ninhos tenha a ver com a temperatura da água no local, que é 2 ºC mais alta do que os arredores. Essa porção de água também tem muitos plânctons, que servem de comida aos filhotes quando os ovos racham.

Localizado no Mar de Wenddell, esse pode ser o maior berçário de peixes já descoberto. Entenda como esses animais sobrevivem às temperaturas congelantes.

Berçário com 60 milhões de ninhos de peixes é descoberto na Antártida

publicado originalmente em superinteressante

O Sol pode ter tido “anéis” antes da existência de outros planetas, diz estudo

Saturno é um dos planetas mais memoráveis do Sistema Solar. O motivo são as rochas e poeira que orbitam o planeta, formando os conhecidos anéis de Saturno. Um estudo da Universidade Rice, nos Estados Unidos, sugere que estruturas semelhantes também orbitavam o Sol no passado, antes do surgimento dos planetas que constituem o Sistema Solar.

A existência desses anéis poderia explicar a formação da Terra e outros planetas do Sistema Solar. O pesquisador brasileiro André Izidoro e colegas criaram um modelo computacional para simular a formação dos primórdios do Sistema Solar e, dessa forma, descobriram a possibilidade de existirem os anéis.

Anéis de poeira e gás, como os de Saturno, podem ter existido ao redor do Sol. Segundo uma simulação feita pela Universidade Rice, eles teriam contribuído para a formação do Sistema Solar como conhecemos hoje.

O Sol pode ter tido “anéis” antes da existência de outros planetas, diz estudo

publicado originalmente em superinteressante

Uma superbactéria evoluiu em ouriços antes de existirem os primeiros antibióticos

Uma equipe internacional de cientistas descobriu que uma superbactéria (ou seja, uma bactéria resistente a antibióticos) chamada MRSA se desenvolveu em ouriços há pelo menos 200 anos. Esse é um exemplo de resistência bacteriana que surgiu naturalmente – e não a partir do uso ampliado dos antibióticos – muito antes do biólogo britânico Alexander Fleming descobrir a penicilina em 1928, ou dos medicamentos começarem a ser produzidos em massa na década de 1940.

MRSA é a sigla em inglês para “Staphylococcus aureus resistente à meticilina”. A S. aureus é uma bactéria comumente encontrada na pele de pessoas saudáveis, que pode causar uma infecção ao invadir o organismo a partir de uma ferida aberta, por exemplo – algo preocupante principalmente para quem tem o sistema imune enfraquecido.

Uma cepa da bactéria, chamada mecC-MRSA, foi descoberta em 2011 por pesquisadores da Universidade de Cambridge (na Inglaterra). Desde então, ela foi amplamente encontrada em rebanhos leiteiros no norte da Europa, causando infecções em vacas – mas raramente em humanos. Presumia-se que ela tinha surgido com a grande quantidade de antibióticos que o gado costuma receber.

A MRSA é encontrada em rebanhos leiteiros e humanos no norte da Europa. Mas ela não surgiu devido ao abuso de antibióticos – e sim de uma batalha microscópica por sobrevivência na pele dos ouriços.

Uma superbactéria evoluiu em ouriços antes de existirem os primeiros antibióticos

publicado originalmente em superinteressante

Risco à democracia nos EUA permanece

Este 6 de janeiro marca o primeiro aniversário de um dos episódios mais tristes – e perigosos – da história da democracia moderna. Foi quando uma massa de apoiadores do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, invadiu o Capitólio para tentar impedir que o Congresso americano certificasse a vitória de John Biden nas urnas. A turba de vândalos, com alguma condescendência da polícia, quebrou janelas, móveis, ameaçou violentamente congressistas e até o vice de Trump, Mike Pence. Os invasores se sentiram tão à vontade com a vista grossa dos agentes que deveriam detê-los que até tiraram selfies durante a ação. Isso até que houve conflito. E sete pessoas morreram em consequência do ataque.

Fato inédito na sólida democracia americana, a invasão foi encorajada pelo próprio Trump, que espalhava a mentira de que as eleições para presidente haveriam sido fraudadas, e que ele seria o verdadeiro vencedor. Os invasores, para a surpresa de ninguém, eram todos “trumpistas”.

Como se sabe, o ataque acabou sendo controlado, John Biden assumiu a Presidência, e o mundo civilizado respirou com alívio ao ver fora do Poder Executivo nos EUA um político de extrema-direita, xenófobo, misógino, simpático a grupos racistas, disseminador de fake news e negacionista da Covid (lembra alguém?). 

Jacob Chansley, que chamava atenção durante o ataque por usar um tipo de capacete coberto de pele de animal com chifres, foi sentenciado em novembro do ano passado a 41 meses de prisão. 

Mas, mais do que a cicatriz deixada na história americana, aquele ataque foi um marco de algo maior: um movimento antidemocrático que veio à tona com a eleição de Trump e continua colocando em risco instituições, cidadania, direitos das minorias, respeito ao resultado de eleições… todas as bases de que uma democracia depende para se manter viva. 

A mentalidade autoritária se espalhou pelo país mais poderoso do mundo como um vírus resistente a vacinas. De acordo com o Survey Center on American Life – uma organização sem fins lucrativos, dedicada a entender como as transformações políticas, tecnológicas e culturais estão mudando a vida do povo nos EUA –, 36% dos americanos acham que o tradicional american way of life está desaparecendo e que é válido “ter de usar a força” para salvá-lo. Um modo de pensar muito íntimo ao que tem se tornado o Partido Republicano desde Trump nos EUA. O Washington Post noticiou que 40% dos republicanos acreditam que uma ação violenta contra o próprio governo pode ser justificável. 

A invasão ao Capitólio completa um ano. Saiba como esse ataque fez parte de um movimento antidemocrático que ainda ameaça os americanos – e o Brasil também.

Risco à democracia nos EUA permanece

publicado originalmente em superinteressante