A Maldição do Farol…Bem vindos ao lar ( parte três)

Beto para de olhos arregalados, puxando Nando pelo moletom.

  • Amor, não pode ser… não saímos da praia.
  • Talvez seja outro farol… só pode.
    Mas o carro continua ali, atolado ainda…e eles se olham estupefatos. Decidem então seguir para o lado oposto, talvez encontrem uma casa. Caminham uns quarenta minutos sem nada avistar, até que a luz da lanterna ilumina um carro, eles se apressam para falar com o motorista, mas chegando mais perto podem ver que é um jipe, atolado na areia…uns cem metros a frente ergue-se um farol… Beto cai de joelhos e começa a chorar…
  • Levanta amor, não, não faz assim…vai ficar tudo bem.
    Nando ajuda o namorado a levantar e dentro de si tenta achar uma explicação plausível para aquilo tudo, tenta, mas não há nenhuma. O vento e a chuva voltam a castigar, inclementes , e os rapazes resolvem passar a noite no farol, pelo menos estarão abrigados.
    Lá fora a tempestade avança, e dentro do edifício o clima é de tensão, preocupados em como irem embora na manhã seguinte, cada um vaga em pensamentos tentando achar uma solução, pelo menos a luz do dia ajudará a situarem -se melhor, tudo fica melhor quando amanhece.
  • Nando preparou uma fogueira, eles comeram e se recostaram nas mochilas, ouvindo o vento uivar na lagoa…o sono chegou para os dois, e no sonho de ambos, eles subiam as escadas em caracol, o faroleiro à frente, com um lampião de querosene, de uniforme antigo e com gestos autoritários, guiando os namorados através da escuridão, chegando ao topo, o homem mostra a eles o entorno do farol, apontando os pontos onde a areia é firme, e onde a maré negra devora tudo que a toca. Ele fala do respeito que devem ter a essa força da natureza, a areia movediça que só existe ali …o farol se alimenta da culpa e dos segredos, a areia suga pra si quem não acredita na força dela. Os rapazes se amam, é uma troca verdadeira, o farol respeita isto, mas a areia têm suas próprias leis e seu próprio julgamento …todo cuidado é pouco.

… continua

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A Maldição do Farol… Bem vindos ao lar ( parte dois )

O dia transcorreu como o esperado, paisagens naturais, banhos de lagoa, picnic e muitos registros de tudo a volta deles. O pôr do sol de tirar o fôlego, depois as estrelas…tudo que eles haviam sonhado estava acontecendo.
Na manhã seguinte, depois de muitos planos noturnos, cedo já estavam a caminho da praia de água doce novamente…desta vez iam conhecer um farol famoso na região, a expectativa era enorme. Passando no mercado abasteceram-se de sanduíches, frutas e água. O dia prometia, repleto de belezas silvestres, natureza e muita emoção. A cumplicidade dos dois era visível e contagiava ao redor. Há uns cem metros do farol, Nando sentiu o carro dar uma “ segurada” na areia, acelerou um pouco…e o carro morreu. Depois de várias tentativas em vão de fazê-lo pegar, eles descem do carro para ver o que aconteceu.

– Amor, você fez a revisão? Pergunta Beto, contrariado.
-Sim, sim…
Mas Nando estava achando estranho demais aquilo. O que aconteceu depois foi mais esquisito ainda…uma tempestade surgiu do nada, galhos voando, relâmpagos e trovões rasgando o céu da tarde, que antes tinha só uma nuvem aqui, outra ali…eles entraram novamente no carro, na esperança que funcionasse, mas ao invés disso o que viram foi o carro balançando e começando a afundar!
Saíram rápido do veículo, com o coração aos saltos… então ambos olharam para o farol, tão imponente e robusto, parecendo um milagre no meio daquela tormenta. Pegaram o lanche no banco de trás e correram para lá, na pressa de se abrigarem da chuva e do vento. A porta estava aberta, há muito ninguém se importava em fechar… Eles entraram sacudindo as roupas e dando risada da situação. Que fazer agora ? Teriam de esperar o clima dar uma trégua… Beto confere o celular, zero sinal. Nando também não têm.
Já está perto das dezoito horas e não tarda a anoitecer, eles resolvem conferir o carro, a tempestade deu uma amainada. O jipe continua lá, enterrado até a metade dos pneus na lama. Nando propõe dormirem ali, mas Beto prefere tentar voltar andando até conseguirem ajuda ou sinal de celular…
Eles pegam as mochilas e a chave e começam a caminhada de volta, o ocaso e as sombras tornam o caminho igual e confuso, mas não ao ponto de meia hora depois eles se depararem novamente com o farol bem a frente deles…

… continua

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A Maldição do Farol … Bem vindos ao lar (parte um)

Nada como um passeio a beira mar para espantar o tédio. Mas cuidado, algumas tardes amenas podem tomar rumos totalmente surpreendentes, e sinistros.
O casal enamorado havia decidido deixar o agito para trás e partir em busca de natureza selvagem e aventura. Um feriado prolongado foi a deixa para colocar o plano em prática. Nando e Beto estavam apaixonados e a praia de areias brancas e água doce pareceu o cenário ideal para o clima de romance. Decidiram não comentar a viagem com ninguém, e embarcaram empolgados no carro rumo a lagoa.
Tudo estava perfeito naquela sexta-feira a tarde, Nando havia recebido uma nova oportunidade na agência e estava muito, muito feliz, os dois tinham gostos parecidos e a companhia um do outro sempre era muito bem vinda. A estrada de terra e areia por vezes era de difícil acesso, mas o 4×4 dava conta do recado, deixando a aventura mais emocionante.
Depois de escolher bastante na internet, eles preferiram uma pousada que ficava há uns cinco quilômetros da praia, pois tinha mais espaço e infraestrutura…se bem que os planos, na verdade, era só dormir lá mesmo, eles queriam aproveitar muito a natureza. Só não optaram por barracas porque Beto tinha dificuldade para dormir, e talvez os barulhos noturnos o afetassem de alguma forma.
Chegaram ao vilarejo no início da noite, a Lua estava estupenda, e o jantar romântico fechou esse dia com chave de ouro. No sábado pela manhã, bem cedo, os rapazes colocaram as coisas no carro e foram se aventurar na orla da lagoa, ansiosos por conhecer melhor a região. A visão da lagoa calma e mansa era de encher os olhos e o coração, e eles deram as mãos, enlevados.
Pássaros em seu habitat, muito junco, aguapés…o céu limpo…o paraíso é aqui! Era exatamente isso que Nando estava pensando quando uma pessoa apareceu do nada, acenando.
-Bom dia!
-Bom dia, em que podemos ajudar? Perguntou Nando.

  • Vocês estão indo aonde?
  • Conhecer a região… porque a curiosidade?
  • Amigos, essa época do ano não é aconselhável se aventurar por aqui …
  • Sério?! Porquê? Vai atrapalhar sua pescaria? Perguntou Beto, irritado.
  • Quisera fosse isso, mas não, ninguém pesca durante a maré negra…
  • Maré negra, como assim?
  • Já ouviram falar em areia movediça? Questiona Pedro, nativo dali.
  • Claro, colega…mas na África, Amazônia… não aqui…
  • Devo alertar que é muito perigoso, que muitos nunca sequer foram encontrados, e os raros que voltaram, nunca mais foram os mesmos…disse Pedro, e se afastou.
  • Obrigado amigo, não esquenta, não! Grita Nando, enquanto Pedro se afasta.
  • Fiquem longe das bocas d’água… responde Pedro já longe…
    Os namorados deram muita risada disso, confiantes que estavam no seu amor, na juventude, e no jipe…

continua…

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