O futuro da Covid

Por Bruno Garattoni

Não era para ser assim. Quando tudo começou, as previsões mais realistas diziam que a pandemia estaria mais ou menos resolvida até meados de 2021, com a vacinação em massa. O Sars-CoV-2 já estava sofrendo mutações, mas lentamente (mérito da nsp14, proteína que funciona como uma espécie de “corretor”, reduzindo a quantidade de alterações genéticas na replicação do vírus). Mesmo assim, uma hora ele começou a evoluir mais rápido, e aí vieram as variantes. As vacinas continuaram funcionando, a situação começou a ser controlada, a vida deu sinais de que poderia voltar ao normal. Então o mundo foi surpreendido pela Ômicron, absurdamente mais contagiosa – a ponto de a OMS prever que, mesmo com vacinas, máscaras e demais medidas, 50% da população da Europa será infectada até o começo de março, e a médica Janet Woodcock, diretora da FDA (a Anvisa dos EUA), ter dito que “a maioria das pessoas vai pegar Covid”.

Se no início da pandemia alguém projetasse um cenário desses, seria tachado de delirante. É importante lembrar disso ao tentar prever o que vai acontecer daqui para a frente. Você deve ter visto por aí a ideia de que a Ômicron pode significar o fim da pandemia (porque se ela contaminar a maioria da população, o vírus não terá mais quem infectar). Pode até ser. Mas talvez essa previsão se revele tão ingênua quanto aquele roteiro inicial previsto em 2020. Enquanto o vírus continuar circulando e infectando muita gente, sempre poderá surgir uma nova variante capaz de mudar o jogo. Ao mesmo tempo, já é possível enxergar um caminho mais concreto para o futuro da pandemia – que começa na quarta dose da vacina. Sim, ela vem aí; e será diferente das atuais.

A evolução da imunidade

As mutações do coronavírus começaram a se tornar um problema com a variante Delta, cuja transmissão as vacinas não conseguiam mais impedir. A solução foi partir para uma terceira dose – com isso, elas voltaram a oferecer mais de 90% de eficácia contra infecção. Ótimo. Pena que a Ômicron acabou com isso. Contra ela, as três doses oferecem bem menos proteção contra o contágio: 67,3%.

Foi o que constatou o Centers for Disease Control (CDC) americano em um estudo com 70 mil pessoas (1). 67% é um número até razoável (e, vale lembrar, a terceira dose da vacina reduz em 90% o risco de Covid grave (2)), mas não será suficiente para frear a circulação do coronavírus – inclusive porque a proteção contra contágio diminui com o tempo, conforme os níveis de anticorpos no sangue vão caindo, e porque esses dois estudos só consideraram as vacinas de RNA (Pfizer e Moderna, que têm maior eficácia e são as mais usadas nos EUA, mas não no resto do mundo).

Então veio a ideia de uma quarta dose. Israel saiu na frente: em dezembro, começou a aplicá-la em todas as pessoas que tivessem mais de 60 anos, algum comprometimento do sistema imunológico ou fossem profissionais de saúde. Não deu o resultado esperado. Uma análise feita no Sheba Medical Center, em Tel Aviv, revelou que a quarta dose da vacina Pfizer eleva em 5 vezes o nível de anticorpos.

Pfizer e Moderna já desenvolveram vacinas adaptadas para a variante Ômicron. Elas poderão ser usadas após três doses do imunizante atual. Mas, no primeiro teste, a vacina da Moderna teve resultados decepcionantes.

É menos do que a terceira (3), que gera um aumento de 8 a 25 vezes (dependendo de quais vacinas a pessoa tomou antes). Mas o maior problema é que ela não consegue impedir o contágio. “Nós vimos muitos infectados pela Ômicron entre os vacinados com a quarta dose”, declarou a epidemiologista Gili Regev-Yochay, coordenadora do estudo. “A conclusão é que a vacina é excelente contra as variantes Alfa e Delta, mas contra a [transmissão da] Ômicron ela não é suficiente”, afirmou.

A Ômicron reacendeu a pandemia. Mas vem aí uma nova geração de vacinas e medicamentos antivirais para combatê-la. Veja como eles prometem mudar o jogo – e até onde as variantes podem ir.

O futuro da Covid

publicado originalmente em superinteressante

Covid-19: por que a Ômicron não pode ser considerada leve?

Por Fabiana Schiavon

A variante Ômicron do coronavírus provocou uma explosão de quadros de Covid-19. Segundo o Instituto Todos pela Saúde, desde dezembro de 2021 essa cepa é a responsável por quase a totalidade dos casos da infecção. Recentemente, uma de suas subvariantes, a BA.2, foi identificada por aqui. Segundo análises de outros países, ela seria ainda mais transmissível.

Embora a gente tenha voltado a registrar um número expressivo de mortes – só ontem foram mais de 1 200 óbitos –, a situação poderia ser muito mais dramática se olharmos para a quantidade de novos casos diagnosticados atualmente. Para ter ideia, do início de 2022 até agora, já contabilizamos mais testes positivos de Covid-19 do que em todo o segundo semestre de 2021.

Por essas e outras, muito se falou sobre a possibilidade de a Ômicron levar a um quadro mais leve. Mas será que faz sentido?

“Leve não não é bem a palavra. Podemos afirmar que a Ômicron tem uma capacidade menor de provocar um quadro grave da doença porque tende a afetar mais o trato respiratório superior [nariz e garganta]”, esclarece a infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.

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“Há poucos dados ainda, mas o que se sabe é que ela atinge as células de um jeito diferente, por isso tem menos impacto no pulmão”, completa Jorge Elias Kalil Filho, diretor do Laboratório de Imunologia do Incor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas da FMUSP.

“Mas em quem não está vacinado, a doença pode evoluir e chegar aos mesmos sintomas graves de sempre, como a falta de ar”, ressalta o médico.

Outro motivo para não usar o termo “leve” para se referir à Ômicron é o fato de ela se espalhar por aí muito rápido, contaminando geral.

A variante até tem menor potencial de causar quadros graves, mas, diante da alta transmissibilidade, não dá para ficar tranquilo. Sobretudo sem vacinação

Covid-19: por que a Ômicron não pode ser considerada leve?

publicado em Veja saúde

Autoteste de Covid-19: o que é, vantagens e limitações

Por Fabiana Schiavon

Com a acelerada disseminação da Covid-19 no Brasil provocada pela variante Ômicron, muitas pessoas com sintomas da suspeitos (ou que tiveram contato com alguém infectado) encontraram dificuldade para realizar testes em farmácias, laboratórios e hospitais. Em meio a esse contexto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a venda de autotestes no Brasil.

Mas, para o consumidor encontrar esses produtos nos balcões das farmácias, as empresas fornecedoras ainda precisam obter o registro e a liberação para vendas pela agência. Isso deve acontecer em fevereiro. 

A ideia é que o teste de Covid-19 — feito pela própria pessoa em casa, em poucos minutos — ajude a identificar mais rápido indivíduos infectados. Mas ele deve ser usado com cuidado. Na decisão da Anvisa, é recomendado à população que o dispositivo não seja utilizado para “definir um diagnóstico, o qual deve ser realizado por um profissional de saúde”. 

No documento de aprovação, a agência define o produto como mais uma ferramenta de enfrentamento à pandemia, porque permite “a identificação precoce e o isolamento de pessoas infectadas com o vírus Sars-CoV-2 que estão assintomáticas, pré-sintomáticas ou apenas com sintomas leves, mas que transmitem o vírus”.

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Em nota técnica, o Ministério da Saúde já tinha pontuado que o autoteste de Covid-19 deve funcionar como uma pré-triagem aos sistemas de saúde. Ele não será válido como atestado médico ou autorização para viagem.

Uma polêmica levantada durante as discussões sobre a aprovação diz respeito à notificação dos resultados. É que a venda indiscriminada desses itens pode fazer as autoridades se perderem no cálculo dos casos confirmados – já prejudicado pelo recente apagão de dados, que deixou o sistema instável desde dezembro.

Objetivo do teste é desafogar farmácias e hospitais, mas é preciso saber o momento ideal e a forma correta de realizar o procedimento

Autoteste de Covid-19: o que é, vantagens e limitações

publicado originalmente em Veja saúde

Cientistas avaliam mutações da Ômicron e refletem sobre efeito das vacinas

Por Thais Manarini

Apesar de a ômicron ter emergido como uma variante de preocupação apenas em novembro de 2021, todas as mutações existentes nela, exceto uma, já haviam sido descritas anteriormente.

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apoiados pela FAPESP, atribuem a esse fator a eficácia das vacinas atuais contra a variante, refletida no relativo baixo número de casos graves e mortes, apesar da maior transmissibilidade da nova cepa.

A hipótese foi levantada pelos cientistas numa carta ao editor publicada no Journal of Medical Virology.

“Os dados disponíveis até agora nos fazem crer que as vacinas atuais são de fato eficazes, respeitando as devidas proporções, contra todas as variantes do vírus. E possivelmente serão contra as outras cepas que vierem a surgir”, afirma Ricardo Durães-Carvalho, pesquisador da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp) apoiado pela FAPESP e coordenador do estudo.

Ainda em outubro de 2021, antes de a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhecer a emergência da ômicron, outro estudo liderado pelo pesquisador, publicado na plataforma medRxiv e em processo de revisão por pares, descreveu a ocorrência de uma série de mutações compartilhadas entre diferentes variantes.

Nova variante tem alterações já vistas em outras cepas, o que explicaria a eficácia dos imunizantes contra casos graves e óbitos

Cientistas avaliam mutações da Ômicron e refletem sobre efeito das vacinas

publicado originalmente em Veja saúde

Três cenários possíveis com a variante Ômicron

Era só uma letra do alfabeto grego (ômicron significa um “o” pequeno; em oposição a ômega, que é um “o” grande) e o nome de um game meio obscuro: Omikron, de 1999, estrelado pelo cantor David Bowie (“acorde, povo de Omikron! Juntos podemos vencer”). Agora, é a coisa mais importante do mundo. É essa variante do coronavírus, que apareceu primeiro na África do Sul, mas já foi detectada em diversos outros países, que vai definir o nosso futuro. Ela tem 52 mutações, sendo 32 na proteína spike – os “espetos” que o vírus usa para se conectar às células (e que também são o alvo das vacinas e dos anticorpos). É muita coisa: quase quatro vezes mais mutações do que a variante Delta e suas nove alterações na spike.

Por isso, existe o receio de que a Ômicron seja mais transmissível, mais capaz de reinfectar quem já teve Covid e/ou consiga driblar parcialmente a proteção conferida pelas vacinas. Cientistas, indústria farmacêutica e autoridades de saúde estão correndo para tentar determinar quão perigosa a nova variante realmente é, e entender o que ela representa para o futuro da pandemia. Ninguém tem as respostas por enquanto. Mas, em linhas gerais, as principais possibilidades cabem em três cenários hipotéticos. Vamos a eles.

O cenário número 1 é o melhor de todos. Nele, a variante Ômicron não consegue se impor sobre as outras que já circulam. Ela chega a muitos países, mas não se torna dominante. Nessa hipótese, mesmo tendo um grau considerável de “escape imunológico” (capacidade de driblar os anticorpos induzidos pelas vacinas ou pela infecção por variantes mais antigas do Sars-CoV-2), ela não se espalha tanto quanto a Delta, que continua sendo a mais comum. Algo do tipo já aconteceu antes. A variante Beta, descoberta em dezembro de 2020 também na África do Sul, tem bem mais escape imunológico do que a Delta – que naquela época era só mais uma variante e não levantava maiores preocupações.

Mas deu no que deu: ao longo de 2021, a Delta conquistou o mundo e ocupou praticamente todo o espaço das demais variantes, Beta inclusive. É que o escape imunológico não é tudo para o vírus; a transmissibilidade também conta. A Delta não é tão competente em driblar as vacinas e o sistema imunológico (ainda bem), mas é extremamente contagiosa. Isso acontece porque ela se reproduz muito: a carga viral (quantidade de unidades do vírus) da pessoa infectada é até 1.200 vezes maior (1) do que com o Sars-CoV-2 “original”, de Wuhan. 

Os cientistas estão correndo para determinar quão perigosa ela é e o que representa para o futuro da pandemia. Ainda não há respostas definitivas. Mas as principais possibilidades cabem em três cenários hipotéticos. Veja quais são.

Três cenários possíveis com a variante Ômicron

publicado originalmente em superinteressante

Pesquisadores da USP isolam variante ômicron do coronavírus

Uma cepa da variante ômicron do Sars-CoV-2 foi isolada pela primeira vez no Brasil. O feito é de uma equipe de pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), que está cultivando a variante em laboratório.

Em duas semanas, amostras da variante serão distribuídas para todas as regiões do país, mas somente para laboratórios que tenham capacidade de lidar com o vírus – ou seja, que tenham o nível 3 de biossegurança. Assim, outros pesquisadores poderão desenvolver diversos estudos sobre a ômicron.

Isso é importante para conter o avanço da variante – como foi importante no início da pandemia. Essa é a mesma equipe do ICB-USP que isolou o coronavírus “original” pela primeira vez no Brasil, em fevereiro de 2020. O processo que rolou na época é o mesmo de agora: amostras do vírus foram cultivadas em laboratório e então distribuídas para pesquisadores de Norte a Sul. Isso permitiu que a Covid-19 fosse estudada e que os primeiros testes diagnósticos da doença fossem desenvolvidos por aqui.

Agora, o cenário da pandemia é outro, mas as amostras continuam sendo importantes: a ideia é que, a partir delas, pesquisadores possam padronizar novos testes para identificar a ômicron pelo país. Além disso, cientistas brasileiros poderão avaliar a eficácia das vacinas contra a variante – ou seja, entender se o vírus pode escapar ou não dos anticorpos de quem recebeu as vacinas.

Cepa da nova variante está sendo cultivada em laboratório pela primeira vez no Brasil – o que permitirá monitorar sua disseminação e avaliar a eficácia de vacinas.

Pesquisadores da USP isolam variante ômicron do coronavírus

publicado originalmente em superinteressante

Variante Ômicron tende a substituir a Delta, sugere especialista

Identificada na África do Sul, a nova variante do Sars-CoV-2 batizada de Ômicron foi classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma variante de preocupação no fim de novembro. Dois motivos levaram a isso:

• Aumento expressivo no número de casos da doença no país que a identificou primeiro, indicando uma cepa mais transmissível em comparação com a original;
• Alto número de mutações genéticas, cerca de 50, que podem explicar a grande transmissibilidade do vírus.

Ser mais transmissível não significa, necessariamente, que essa variante gere uma doença mais grave, segundo explica Fernando Spilki, especialista em virologia e coordenador da Rede Corona Ômica, que atua no sequenciamento do genoma de amostras do novo coronavírus no Brasil. Para esse tipo de afirmação, é preciso cautela e tempo.

Confira mais informações sobre a Ômicron em bate-papo com Spilki, que também é responsável pelo Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade FEEVALE, no Rio Grande do Sul.

Quais são as principais características da Ômicron e por que se tornou preocupante?

Do ponto de vista do genoma e da estrutura de proteínas, essa variante reuniu várias mutações que já conhecíamos de outras cepas de preocupação do passado. É como se ela tivesse feito uma seleção de várias alterações genéticas de outras variantes.

Ainda são necessárias mais informações para se ter certeza sobre a severidade da doença provocada pela nova variante

Variante Ômicron tende a substituir a Delta, sugere especialista

publicado originalmente em Veja saúde

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