
Por Fabiana Schiavon
Alguns meses após a liberação da venda de melatonina – substância conhecida como hormônio do sono – pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as prateleiras das farmácias se encheram de opões do produto.
Especialistas e a própria agência, no entanto, concordam que não há evidências de que essas cápsulas promovam benefícios diretos a quem sofre de insônia.
Há casos bem específicos em que a melatonina é prescrita por médicos, e consumir fora desse padrão pode ser arriscado.
Primeiro é preciso entender o que é a melatonina. Trata-se de um hormônio produzido naturalmente pelo organismo e que serve como regulador e indutor do sono, entre outras funções. Ela também aparece em alguns alimentos.
A produção é realizada pela glândula pineal – localizada no cérebro – e começa quando o sol se põe ou quando o corpo percebe a queda da luz e entende que deve se preparar para dormir. Acompanhar esse ciclo de claro e escuro ajuda a ir para a cama mais cedo e acordar mais disposto na manhã seguinte.
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Ao contrário de vitaminas e minerais, cujas concentrações podem ser medidas no sangue com um exame simples, a melatonina não tem como ser aferida tão facilmente.
“Ela é um hormônio. Então não é possível dizer se uma pessoa precisa de reposição e em qual medida”, explica a neurologista Dalva Poyares, pesquisadora do Instituto do Sono (SP).
Não é solução para a insônia
Segundo os médicos, ter aprovação e regulação da Anvisa ajuda a controlar a qualidade, a produção e a venda desse produto no Brasil, antes vendido apenas em farmácias de manipulação. As pílulas chegavam, ainda, por pessoas que viajavam a outros países.
De qualquer forma, os especialistas seguem preocupados com a possibilidade de o consumo ocorrer de forma errada.
Cerca de 35% das pessoas que sofrem de insônia usam medicações, como a melatonina, sem acompanhamento médico, informa Caio Bonadio, médico psiquiatra da Vigilantes do Sono.
“Dormir mal não significa somente ter insônia. Existem cerca de 50 doenças do sono catalogadas. Como o nosso corpo produz a melatonina naturalmente, é preciso fazer uma avaliação médica completa antes de decidir prescrevê-la”, reitera o especialista, pesquisador do tema.
Aprovado pela Anvisa, produto passa a ser encontrado na farmácia e vendido sem prescrição. Especialistas temem uso incorreto e consequências sérias à saúde
Melatonina: suplemento não é solução para insônia e pode ser prejudicial
publicado originalmente em Veja saúde