
Por Fabiana Schiavon
Seja pela indisponibilidade da dose certa na farmácia ou uma tentativa de fazer o medicamento render mais, cortar os comprimidos na metade pode gerar riscos à saúde.
Além de não garantir uma proporção igual do princípio ativo do remédio nas duas partes, a prática pode interferir no tratamento do paciente.
“O medicamento é uma mistura do princípio ativo [substância responsável pelo efeito do remédio] com outros excipientes [ingredientes] farmacêuticos. Isso tudo é misturado e prensado. Por isso, não é possível garantir que a metade direita e a metade esquerda tenham a mesma quantidade”, explica Leonardo Pereira, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
Pesquisadores da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) chegaram a mesma conclusão ao testar o medicamento hidroclorotiazida – diurético indicado para o tratamento da hipertensão – e analisar as consequências de cortar o comprimido em pedaços. Após testar cerca de 750 pílulas, os autores do estudo identificaram discrepâncias nas partes divididas.
[abril-whatsapp][/abril-whatsapp]
“A avaliação do processo de partição apresentou diferenças significativas na uniformidade de massa e de conteúdo, verificando-se que há grande variação de teor. Considerando que a hipertensão é uma doença grave e que requer esquema posológico rígido, variações na dosagem podem influenciar significativamente no tratamento do hipertenso”, destacam os pesquisadores no artigo publicado na Revista de Ciências
Farmacêuticas Básica e Aplicada.
Além disso, partir ao meio pode anular os recursos do medicamento. Pereira, que também é membro da Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas, lembra que certos remédios são revestidos por uma fina película protetora que evita que o comprimido sofra ação no estômago antes de ser absorvido no duodeno, a primeira parte do intestino, ou que possuam um mecanismo de liberação mais lenta no sangue. “Se cortar, estraga a tecnologia”, explica ele.
+ Leia também: Prednisona: o que é, para que serve e como funciona esse corticoide
Quando é indicado cortar?
Apesar da contraindicação no geral, a divisão do comprimido pode ser sugerida em dois casos:
• Quando a orientação dos especialistas é que o paciente aumente a dose de um remédio aos poucos;
• Quando o paciente deve parar de tomar a medicação, mas gradualmente, em um processo chamado de “desmame”. Neste caso, o tratamento não pode ser interrompido de forma abrupta e, por isso, a quantidade de miligramas é reduzida lentamente.
A divisão dos medicamentos não garante uma proporção igual do princípio ativo nas duas partes e pode prejudicar o tratamento
Os perigos de cortar o comprimido ao meio sem indicação correta
publicado originalmente em Veja saúde