Campo magnético da Terra tem ondas de 7 anos

Por Bruno Garattoni

A Terra contém ferro e níquel derretidos, na forma líquida. Conforme esses metais se movem e se misturam, a interação entre eles gera um campo magnético – que envolve todo o planeta e pode ser detectado por pombos, tartarugas, tubarões e algumas espécies de aves migratórias, que o utilizam para se orientar (em 2019, uma experiência feita no Instituto de Tecnologia da Califórnia revelou que o cérebro humano também consegue detectar, em um nível inconsciente, o campo geomagnético (1)).

Ele também se desloca com o tempo: desde o começo do século 20, o polo norte magnético está indo do Canadá para a Sibéria. A novidade é que, além desses fenômenos, também há uma oscilação rápida e misteriosa.

Um estudo publicado por cientistas franceses (2) constatou que, a cada sete anos, aparece uma onda magnética na região da linha do Equador, que se desloca para oeste na velocidade de 1.500 km por ano.

Os pesquisadores descobriram isso analisando registros de satélites (dotados de sensores magnéticos) entre 1999 e 2021. Segundo eles, a onda poderá ajudar a entender a formação do campo geomagnético – e prever melhor suas futuras mudanças. 

Fontes (1) Transduction of the Geomagnetic Field as Evidenced from alpha-Band Activity in the Human Brain. J. Kirschvink e outros, 2019. (2) Satellite magnetic data reveal interannual waves in Earth’s core. N Gillet e outros, 2022.

Estudo revela que o geomagnetismo sofre flutuações periódicas – e enigmáticas.

Campo magnético da Terra tem ondas de 7 anos

publicado em superinteressante

Magnetorrecepção: o sexto sentido

Ami já era o terceiro pombo-correio solto pelo major americano Charles White Whittlesey naquele 3 de outubro de 1918. Um grupo de 550 homens havia sido cercado na comuna de Montfaucon-d’Argonne, no nordeste da França. 194 haviam sobrevivido, mas estavam cercados por alemães e precisavam de resgate.

White estava usando os pombos para pedir socorro. O primeiro, que levava a mensagem “estamos feridos. não conseguimos escapar” num papelzinho preso à pata, foi abatido pelos inimigos. O segundo (“estamos sofrendo. podem enviar ajuda?”) também. Os alemães sabiam do que se tratava. E também acertaram Cher Ami assim que ele começou a voar. Mas não conseguiram derrubá-lo.

A bala acertou a pata direita e raspou o peito do pombo, que continuou voando por 25 minutos até chegar à base militar mais próxima, a 40 km dali, onde entregou a mensagem – que acabou por salvar os 194 homens. A pata do bicho teve de ser substituída por uma prótese de madeira. Cher Ami foi levado para os Estados Unidos, onde recebeu uma medalha por ter entregue essa e outras 11 mensagens durante a Primeira Guerra Mundial. Morreu em junho de 1919.

Desde o Egito Antigo, 3 mil anos antes de Cristo, os pombos são usados como mensageiros. Eles têm essa utilidade porque sempre sabem voltar para casa: basta criá-los em um local específico e essas aves saberão voltar até lá, partindo de qualquer ponto. O general romano Júlio César usou pombos-correio em seus esforços militares contra os gauleses. Eles também levaram mensagens na Pérsia, na Grécia Antiga, no mercado financeiro – em 1860, o inglês Paul Reuter, fundador da agência de notícias Reuters, usou pombos-correio para enviar cotações de ações entre Bruxelas, na Bélgica, e Aachen, na Alemanha. Temos uma longa história com esses bichos. Mas só recentemente começamos a entender por que eles conseguem se orientar tão bem: usando o campo magnético do planeta como GPS.

Pássaros, vacas, tubarões e até bactérias conseguem sentir o campo magnético da Terra, que usam para se orientar. E uma experiência intrigante sugere que o cérebro humano também pode ser capaz de detectá-lo de forma inconsciente.

Magnetorrecepção: o sexto sentido

publicado originalmente em superinteressante